quinta-feira, 30 de abril de 2009

Atravessaram o samba

Vai aqui um pouco de antropologia de botequim. A distinta platéia desta atrevida e tribuna defende que, por suas sagradas raízes plantadas no ciclo histórico do açúcar marcado pela vergonhosa crueldade do escravagismo, Campos é uma cidade que incorpora forte traços de negritude, que faz desta planície uma república à parte, por conta da grande população de afrodescendentes.

Os negros foram perseguidos e açoitados, mas deixaram aqui a contribuição de uma cultura enraizada nas artes, na música popular, na culinária e em nossa língua.

Durante muitos anos a civilização anglo-saxã atribuía aos brasileiros a precha de desleixados, indolentes ou desorganizados, por conta dessa mistura de raças consideradas (por eles brancos) inferiores.

Mas não são negros e índios que vivem a se matar por motivo de ambições materiais irracionais e de disputas religiosas. Os bárbaros de hoje não são eles, mas a civilização branca denominada moderna e contemporânea.

Pelo contrário, amigo. A crioulada tem oferecido demonstrações de tolerância civilizada ao longo de amargos séculos.

Portanto, não culpem por aqui os negros de nossas plagas pelo nosso carnaval fora de hora. A culpa não é das camadas populares inseridas no samba, mas de castas privilegiadas, que saquearam o nosso vil metal e roubaram a alegria do povo em fazer sua festa na hora certa.

Então, deixe o pessoal saracotear nesta festa popular, de forte expressão comunitária que nos une mais do que nos separa. Só não vê quem não quer ou não frequenta a jurisdição da patuléia. É latente alegria das comunidades em montar seu bloco, bois pintadinhos ou escola de samba.

É que tem madames e pequenos-burgueses que não suportam ver a alegria triunfal da plebe, que para muitos deles só serve mesmo para capinar o quintal de suas residêcias, limpar suas piscinas ou outras tarefas domésticas.

Então, que as camadas do povo digam o que têm no pé e na cabeça. E que os incomodados não venham mais atrapalhar nossa batucada.

2 comentários:

  1. Falou e disse! Bravo!Concordo! Excelente reflexão! Lucidez é bom e eu gosto muito! Parabéns. O Povo brasileiro é a mistura linda e o samba é no pé. Humildade, não?

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  2. Paulo,

    Além de umabraço fraterno e um elogio merecido, escrevo-lhe para pedir que não deixe de ir à Passarela Jorge da Paz Almeida. Você verá que, quandoo poder quer (dentro das suas possibilidades), faz. Rosinha montou uma estrutura decente para o Carnaval, com o mesmo dinheiro gasto para aquelas coisas horríveis e desrespeitosas que chamavam de arquibancadas e camarotes. Como será o último Carnaval de montagem e desmontagem da engrenagem (pois teremos o Centro de Eventos Osório Peixoto, anoque vem), espero que não deixe de ir à Avenida. Vá hoje, sábado, pois deve ser o melhor dia. Se os desfiles são bons ou não, não importa no momento, pois fazem parte da estrutura carcomida da própria comunidade carnavalesca. O que importa para nós, governo (sim, agora sou governo) é a estrutura oferecida aos carnavalescos e ao público. E esta, você não pode deixar de ver.
    Aguardando você lá, a partir das 21 horas, despeço-me com um forte abraço de seu admirador,
    Avelino Ferreira

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