sexta-feira, 24 de julho de 2009

A megalomania do trem-bala

O grande mal de alguns governantes interesados em fazer algo impactante, mas de discutível interesse, é realizar obras megamomaníacas que os eternizem ao curso do tempo. Em Brasília, às vésperas de uma eleição, anuncia-se o tal do trem-bala, cujo tempo de viagem entre Rio e São Paulo

O custo dessa obra, inicialmente orçado em R$ 9 bilhões, subiu para R$ 17 bilhões. Meu olfato e minha capacidade sensorial me levam a crer essa história acabará no odor que passou a exalar as obras do Pan.

Agora, diante de estudos mais aprofundados da topografia da região entre os dois estados que será cortada pelos trilhos, já se fala em R$ 30 milhões, pelo menos é o que consta nos ultimos dias nos jornais.

O questionamento que se faz é: que ou quais interesses atende essa obra? Qual o quantitativo de pessoas que viajam entre as duas cidades? Qual o seu custo-benefício, sabendo-se que seu trajeto durará um pouco menos do que a viagem pela ponte aérea entre as duas cidades, hoje com tarifas bem menos onerosa que há 15 anos atrás?

Outr pergunta que se impõe: quais empreiteiras hoje esfregando as mãos diante de mais esse maná que lhes cai dos céus (ou dos infernos?) serão beneficiadas com a coisa megalomaníaca cujo custo-benefício é bastante discutível?

Em duas metrópoles onde ainda não se conseguiu solucinar os graves problemas do transporte de massa, cada vez mais cruel para os milhões de trabalhadores que saem de madrugada dos subúrbios para as duas cidades para chegar no trabalho todas as manhãs, convenhamos tratar-se de mais uma obra faraônica, uma apelação com interesses eleitoreiros.

Imaginem se esse dinheiro fosse carreado para obras como a extensão da linha 4 do metrô no Rio, que beneficiaria um enorme quantitativo de pessoas que trabalham na Barra da Tijuca...

O Metrô do Rio beneficia apenas 500 mil usuários diariamente numa metropole cuja região metropolitana de cerca de 12 milhões de pessoas. E as linhas do metrô até São Goncalo, Barra, Ilha do Governador?

O metrô é uma das mais preciosas invenções da engenharia. A malha metroviária de São Paulo também é ridicula, possui 61,3 km, ainda muito pequena para uma metrópole de quase 20 milhões de habitantes. Ocupa a 41ª posição em extensão entre todos os metrôs do mundo.

Se esses recursos fossem concentrados na extensão dos trilhos do metrô de São Paulo até Vila Sônia, uma das regiões mais pobres da capital...

Aqui em Campos, cidade de médio porte que há muito carece de investimentos vultuosos na área viária e do transporte de massa, buscou-se recentemente o mesmo exercício de megalomania.

Uma megalomania eleitoreira, quando o deputado Arnaldo Vianna, então candidato a prefeito, lançou um balão de ensaio para ganhar a eleição com a proposta de metrô de superfície, sobre a Avenida 28 de Março. Tudo sem estudos técnicos convincentes e custo-benefício altamente discutível.

Seria mais uma oportunidade de torrar irresponsavelmente a verba dos royalties do petróleo para outros fins, como sempre ocorreu nesta cidade.

Em Macaé, que ainda não chega a ser uma cidade de médio porte, o prefeito Riverton Mussi acena com projeto de Veiculos Leves Sobre Trilhos (VLT), onde serão consumidos mihões que transportão 600 pessoas/dia.

Por que, ao invés de perder tempo com obras como essas, não articular com o governo estadual soluções para o grave problema viário que se tornou o trajeto entre a cidade e Rio das Ostras, onde se pode levar cerca de 90 minutos numa viagem que poderia durar meia hora?

Se a sociedade não se muniar de capacidade de pressionar governantes irresponsáveis na direção da aplicação correta dos recursos públicos, o retrocesso será inevitável, com problemas sempre adiados, com efeitos multiplicados e cada vez mais de dificil solução.

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