domingo, 10 de maio de 2009

Atravessando o samba. Ou melhor, o show

Alguns desses homens que se batem por uma Campos virtuosa e altaneira não podem morrer sem deixar de emitir gritos de uma santa ira contra o que fez o deputado Wilson Cabral esta semana no Trianon.

Em que pese ter sido eleito com as "bençãos" do exterminador Alexandre Mocaiber, tenho um bom trato pessoal/profissional com o impoluto parlamentar.

Jamais poderia dizer dele que seja um político como alguns, diante dos quais não se pode cometer algumas displiscências, como esquecer a carteita em cima da mesa, enquanto se vai fazer um xixi rapidinho no banheiro.

Mas não posso recolher-me a um criminoso silêncio diante do inacreditável. Não me chamem de velho ou ranzinza, mas não dá pra ficar muito tempo sem falar mal dos políticos.

Quando não estão por aí fazendo suas obscenidades, estão por aqui mesmo fazendo suas estrepolias.

Fui até o Trianon para ver o Boa Noite Amor. Não sei se era noite de lua clara propícia aos enamorados, não sou seresteiro, estou muito mais para curtir um banquinho e violão, o amor e a flor da bossa nova.

Mas não consigo também ficar muito tempo sem ouvir João Nogueira, Cartola ou Paulinho da Viola, com toda picardia malemolente de nossos sambas de raíz africana.

Entretanto, não deixo de reconhecer valor artístico num Lupicínio Rodrigues, entre tantos outros que cantam o amor e as dores de amores. Sou do sereno, sim sinhô, pau pra toda obra.

Falou em Musica Popular, sou bom soldado, estou aí pronto, sempre se necessário, a erguer a bengala, assestar baterias e esgrimir espadas para defender esse nosso patrimônio cultural.

Mas o sacrossanto motivo que justifica essas mal digitadas linhas é para proferir o desabafo dos justos.

Um desabafo para dizer que não dá pra aguentar deputado interrompendo espetáculo para fazer sua politica, como fez o senhor Cabral, ao fazer a entrega de comendas e medalhas com as quais foram homenageados os integrantes daquele afinado grupo muiscal.

Confesso que tive ímpetos de vomitar alguns palavrões em todos idiomas e dialetos possíveis e inimagináveis.

Mas dois obstáculos me impediram de consumar o retumbante protesto: minha educação suiça não permite, o Trianon é um templo, uma casa por demais fina e não ficaria bem que ali em seus anais ficasse registrado meu palavreado profano de baixo calão.

Vão dizer que esse negócio de vaia é pra estádio de futebol, lugar da ralé que não sabe se comportar.

Tudo bem, justissimas as homenagens, não se está a discutir o mérito concedido aos laureados, longe disso.

O que está em xeque é justamente a inconveniência de se fazer a homenagem em plena apresentação, misturando show com solenidade com político fazendo discurso prá nós.

Eles já contam com espaço suficiente em alguns indigestos programas eleitorais no rádio e na tevê.

Por que não convidar os homenageados para receber tais honrarias no plenário da Assembléia Legislativa, com toda pompa e circunstância?

Não teria ocupado um tempo considerável da apresentação, enchendo o saco do distinto e respeitável público naquela bela noite de quinta-feira.

4 comentários:

  1. Campos! Terra linda de "Homens das Crônicas". Ler as suas... é beber água fresca sob sol escaldante depois de andar léguas em chão de poeira...Pó. Somos. Barro. Somos.M as nada como água para amaciar o barro, e assim mais macio, modelável, se deixar refazer em vasos prontos a servir... quem sabe, água fresca, como bom samaritano.
    Aproveite:
    http://www.youtube.com/watch?v=QPnA_spUCTE&feature=PlayList&p=4BF102509DFE01E3&playnext=1&playnext_from=PL&index=1

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  2. Acústico
    http://www.youtube.com/watch?v=mlFM4G4BdHw&feature=related

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  3. Aviso aos ( ainda) impacientes...
    É só mais este. Obrigada. Desculpa...

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  4. Caro Paulo Renato

    Se a entrega fosse na ALERJ, o deputado Wilson Cabral (em quem digs-se de passagem, votei) não teria o "público/futuro-quase-eleitor" ao seu alcance.

    É uma forma equivocada de se fazer política, ultrapassada mesmo e muito me surpreendeu essa postagem pois acreditava que o deputado faria um mandato diferenciado, moderno, mais republicano e menos provinciano, pelo visto me equivoquei.

    De qualquer forma, justa a homenagem feita ao grupo musical.

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