sexta-feira, 15 de maio de 2009

O direito de morrer

Não sei o que tanto fazem os nossos vereadores e deputados estaduais.

Só sei que são tão incompetentes quanto o tamanho da humilhação que têm feito passar os mortos e vivos que precisam utilizar os serviços do IML de Campos.

Só sei que todo mundo, inclusive o campista, mesmo a contragosto, tem o direito de passar dessa para uma outra numa boa, com dignidade.

Mas os peritos, o Sérgio Cabral Filho, os deputados estaduais deveriam saber que em Campos tão querendo fazer com que aqueles que bateram as botas passem por constrangimento, além da morte.

Na sociedade capitalista, a morte é constrangedora, sim, num mundo que enaltece sempre os vencedores. O morto oferece a idéia de que o cara fracassou, foi incapaz de resistir às armadilhas que o destino nos traça, perdeu a última batalha para continuar a desfrutar do que ele tem de mais precioso: a vida. À luz dessa ótica perversa, quem morre é um fracassado.

Mas, se há algum benefício na morte, é que ela nos deixa livre de uma série de aborrecimentos e aporrinhações, entre tantas contrariedades. Morto não tem que aturar os políticos que temos, os chatos que estão à sua volta. Não paga aluguel, condomínio ou impostos, embora haja controvérsias em relação aos últimos três ítens.

E tem também o direito de não querer mais apoquentar alguém depois de bater as botas.

Imaginemos um defundo que foi uma boa alma. Amigos e parentes vão dizer que ele não merecia passar por isso. Se for um sujeito mala, complicadíssimo espírito-de-porco, vão reclamar que o infeliz deu trabalho até na morte. Então, vos apelo, senhoras "otoridades": vamos deixar os mortos em paz.

A morte é uma coisa séria, já dizia o menino Joaquim Maria, mais conhecido como Machado de Assis. Ou, então, ou Bruxo do Cosme Velho. Mas, em Campos, a morte é mais do que uma coisa séria: é um escárnio.

O sujeito luta tanto para chegar com dignidade, pompa ou circunstância ao epílogo solene da última morada, direito sacrossanto de todos os mortais, mas sua última estrada acaba por ser tranformada numa via crucis.

Ficar um punhado de horas esperando rabecão ou médico perito que não chegam, é uma derradeira provação a que o cadáver é submetido aqui na terra.

E que prova de que a medicina legal não é tão legal assim.

E digo mais: pior do que isso só o show de horrores de alguns programas do rádio campista.

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