Vou meter a colher nesse enredo da ressaca carnavalesca desta segunda com cara de Quarta-Feira de Cinzas.
E proclamar sem mais delongas que desde quando os nossos crioulos mais ciosos batucavam para aliviar a tristeza ao ritmo do som inventado pelos nossos ancestrais e levavam porrada da puliça no mangue do Império (salve Tia Ciata!), o povão passou a ter pecha de bagunceiro, desordeiro, macumbeiro, izoneiro, e outros eiros.
Eram as elites da época a cercear as manifestações culturais do povaréu. A crioulada tinha que ser aculturada pela civilização branca européia, ter a mesma religião, os mesmos deuses... Violão era proibido.. E Ruy Barbosa trombeteava no Senado sua fúria contra o "Corta Jaca" da Chiquinha Gonzaga, no Palácio do Catete.
Acrescento como subsídio às minhas teses elucubrativas com a valente argumentação, escancarada num sambinha gravado pelo João Gilberto, letra de Haroldo Barbosa.
Prá quê discutir com madame
Madame diz que a raça não melhora
Que a vida piora por causa do samba,
Madame diz o que samba tem pecado
Que o samba é coitado e devia acabar,
Madame diz que o samba tem cachaça, mistura de raça mistura de cor,
Madame diz que o samba democrata, é música barata sem nenhum valor,
Vamos acabar com o samba, madame não gosta que ninguém sambe
Vive dizendo que samba é vexame
Pra que discutir com madame.
No carnaval que vem também concorro
Meu bloco de morro vai cantar ópera
E na Avenida entre mil apertos
Vocês vão ver gente cantando concerto
Madame tem um parafuso a menos
Só fala veneno meu Deus que horror
O samba brasileiro democrata
Brasileiro na batata é que tem valor.
Pois que até hoje esse ranço continua... que alguns meios de comunicação tratam com desdém as manifestações do povo, a única que há para lhe conferir referêncial, dizer que ele existe, que a periferia sabe também organizar algo de valor...
Teve até jornal que se preocupou em destacar a Batalha do Itararé (royalties para o bom menino Aparício Torelly), a batalha que não houve, entre a Baleeira e a TG.
Mas deixar estar, porque o meu bom amigo Humberto Rangel, brioso e dedicado diretor do Psicodélicos, promete lutar ao lado do Marcelo Sampaio e outros guerreiros, contra a obra de destruição do nosso carnaval.
Eu, de minha parte, junto com meu amigo Geraldo Gamboa, também lutarei com todas escassas forças para que esses reles homicidas não cumpram seus nefastos e escatológicos objetivos.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
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