segunda-feira, 1 de junho de 2009

O sagrado exercício do ócio

Senhoras e senhores, podem me chamar de velho ranzinza, cansado, ainda que tanha completado só 50.2 este ano. Podem xingarem-me até a ultima geração, mas jamais irei renunciar ao indelével dever de esgrimir espadas, empunhar armas e bradar contra os idiotas que vivem a dar curso à idéia segundo a qual o trabalho enobrece.

O trabalho enobrece é uma frase de efeito criada para ludibriar os trabalhadores ao longo de séculos, uma enganação patrocinada pelas elites, um tipo de percepção que serviu exatamente para aplacar os pobres, isto é, foram os ricos quem pregaram o discurso da dignidade do trabalho para os pobres enquanto tratavam de se manter indignos a respeito do mesmo assunto.

Essa idéia cínica é propalada justo por quem vive de explorar os milhões de trabalhadores pelo mundo afora. Portanto, neca de pitibiriba essa história de que o trabalho enobrece.

Os que proclamam que esta função do trabalho são os mesmos que não assinam a carteira de trabalho ou não pagam horas extras como direitos de seus empregados, que alguns deles chamam de colaboradores.

O que enobrece mesmo o homem é a dignidade, a coerência, a ética e seus congêneres. O trabalho é um fim em si mesmo, é como beber água quando se tem sede. É essencial, mas só é digno se for capaz de prover nossas condições materiais de subsistência.

O trabalho enobrece, mas os nobres não trabalham, já dizia o Bertrand Russell.
Faço este introito (recebam, sacanas, um introito no peito), apenas para justificar minha ausência durante este longo e tenebroso inverno.

Nada mais revigorante do que o sagrado exercício do ócio e da contemplação, que inclui como ritual deitar numa rede, tomar agua de coco, tirar uma de baiano pelo menos por alguns dias.

Mas outras motivações me afastaram da lida diária. Como uma gripe que deixou afônico este rouco locutor, impossibilitado de gritar e orientar os meninos em campo, além de suplicar para que o Cuca pelo menos preste uma mísera homenagem à inteligência a cada peleja. Pelo menos, uma. Ou que pelo menos não atrapalhe — e já estaria sendo inteligente.

E foi isso que o nosso introspectivo comandante ele fez ontem, embora não tenhamos jogado uma partida brilhante.

Vencemos, em parte, porque o chamado Furacão se encontra despossuído de sua capacidade devastadora de outrora.

Depois desta retumbante e contundente explanação, vamos ao mais importante, porque um valor mais alto se alevanta, com direitos autorais para o menino Pessoa.

Mas o seguinte é este: abaixo a discussão sobre a crise mundial, a gripe suina, o arsenal da Coréia, o avião que caiu.

O Brasil, como uma parte mais inteligente do Mundo, apenas discute a transmutação do nosso Imperador (mantenha a inicial com caixa alta, por favor, revisor herege), um episódio que já suscita estudos e dissertações em foruns de discussões multidisciplinares, da psicologia e da semiótica.

Sim, porque o abençoado Adriano se sentiu novamente em casa. A certeza é a de que passou em sua cabeça um filme ao reencontrar o seu berço, ao rever a Nação Rubro-Negra a gritar em uníssono seu nome.

Já disse aqui desta isenta tribuna que o menino Adriano é desses que possuem a ventura, os atributos e predicados intelectuais e culturais que levam um cidadão a ser capaz de entender o que é vestir e camisa Rubro-Negra. Do que é ser Rubro-Negro.

Então, nada mais razoável esperar uma dedicação tipica de um devoto sensível à nossa justa causa. O abenonçoado Adriano já sentiu na pele, desde a tenra idade, a graça divina, o significado do que é fazer a alegria de um povo. Que não é um povo qualquer.

São 35 milhões (algumas pesquisas seriam 37 milhões) de brasileiros espalhados pelo mundo afora, uma multidão cujos seguidores superam à população da maioria dos paises do globo terrestre.

Há rarissimos cidadãos no mundo, em todos os tempos, que tiveram a fortuna de ouvir seu nome gritado por uma multidão de mais de 70 mii pessoas. São pouquissimas, escassas as exceções. Fidel Castro, Mao Tse-tung, Getúlio Vargas...

O inolvidável Fábio Luciano que o diga em sua gloriosa despedida. Chegou às lagrimas e confessou não haver nada mais gratificante no mundo do que ser idolo da torcida desta Nação que faz de seu clube uma entidade sagrada e imorredoura, para a felicidade deste País. Mais do que uma paixão, uma religião.

Um comentário:

  1. Caro e ex-ocioso Paulo Renato

    O ócio sempre é bem utilizado, quando torna-se criativo, que certamente foi o seu caso.

    Devo dizer para vossa senhoria, Rubro-Negro de mais de meio século de vida, como eu, que Adriano, O Imperador, The Imperator, Il Imperatore e por aí a fora, tem, por baixo do Manto Sagrado, pele Rubro-Negra. Sim, sua epiderme é Rubro-Negra assim como seu sangue, Rubro-Negríssimo e isso faz a diferença.

    Adriano, fora de forma, sem ritmo de jogo deu outra dimensão ao ataque do Mengão isso caro ex-ocioso, fará a diferença daqui para a frente neste longo e tormentoso Brasileirão.

    Forte abraço Rubro-Negro.

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